Soraya Vidya

Muitas pessoas me pedem dicas sobre o que visitar na Índia, então deixo aqui meu relato das minhas experiências das várias vezes que fui nesse país único, encantador. Quando visitei a Índia, o berço do Tantra, em 1990 e 1996 por três meses cada vez, além de conhecer as lindas cavernas e templos tântricos de Ajanta e Elora, eu permaneci o resto do tempo exclusivamente no ashram do Osho, Multiversity em Poona, pois lá já era demasiado forte, uma profunda viagem espiritual que me absorveu por completo em cursos, meditações, trabalho comunitário e uma rica convivência com pessoas de todo o mundo. Essas duas vezes foram muito intensas no sentido de trabalho interior que marcaram profundamente minha vida pessoal e profissional. Embora tenha mudado muito comparado ao auge que foi a Multiversity em Poona nas décadas de 80 e 90, quem ainda não conhece vale a pena conhecer.

O percurso feito pela terceira vez entre outubro/2014 a março/2015 durante cinco meses foi mais uma experiência inesquecível por mother Índia e Nepal. A viagem foi planejada e realizada junto com uma amiga professora de Yoga, Ceres Moura, que também incluiu minha filha e a filha dela nos últimos três meses da jornada. Foi um exercício de partilha e liberdade na medida em que algumas vezes cada uma de nós seguia seu próprio fluxo do coração por lugares e experiências diferentes até se reencontrar novamente.

 

Como eu tinha ido à Índia e conhecia apenas Poona, Ajanta e Ellora, meu interesse na terceira vez era conhecer vários outros lugares. Visitei oito estados e 16 cidades: a região norte (Varanasi e a montanhosa Dharansala); região central (Nova DéliJaipurAgra); centro-norte, Kajuraho; oeste (MumbaiPune, praia de Arambol no mar arábico de Goa). Na região sul fui a Tamil Nadu (TiruvanamalaiPondichery e Auroville) e Kerala (VarkalaCochinAmritapuriCalicut), vivendo experiências inusitadas em cada lugar.

 

A Índia é um país com uma cultura orientada pelos Vedas- escrituras sagradas, com mais de 5.000 anos de história. Mesmo com muitos conquistadores não perdeu sua identidade. Jamais deixará um visitante indiferente às suas explosões de cores, sabores, aromas, saberes, devoção espiritual e hospitalidade do seu povo, assim como seus aspectos culturais únicos.

 

Há um culto à beleza que pode ser apreciado nos arranjos florais, mandalas pintadas nas entradas dos locais, artesanatos, arte em geral e uma riqueza de detalhes da arquitetura local, orientada por Vastu – feng shui dos indianos com muitos arcos e jardins internos com uma mística peculiar.

 

Mas muitas vezes não é fácil viajar por ela, pois também há pobreza, sujeira, barulho e multidão, num “caos” que parece funcionar de forma harmônica, sintetizada numa expressão bem conhecida: “na Índia tudo é possível”. De fato é um país com tudo isso e muito mais, o que a faz ser chamada de “incredible India”. Mas exatamente por ter essa mescla de espiritualidade e desafios que faz com que o viajante já não volte sendo a mesma pessoa.

Retiro em Tantra e Festival Tântrico – meditação, amor e êxtase

Em 2014 fui para o “Tantra Retreat” em Dharanshala e para o “Osho Tantra Festival” em Délhi no centro “Zorba the Budha”, ambos me fascinaram profundamente, tanto no aspecto do espaço físico desses centros do Osho como do campo tântrico de alta vibração. Essa parte da viagem se destacou e me transformou por algumas razões. Foram nesses dois eventos que tive uma vivência do fluxo vivo do Tantra, de muita expansão de consciência, de amor e de muitos aprendizados. Encontrei pessoas incríveis de várias partes do mundo reunidas como uma linda tribo onde foi natural partilhar a partir do coração e fazer muitos amigos.

 

 

Tanto no retiro como no festival houve um campo favorável para deixar cair proteções e máscaras aceitando nossas vulnerabilidades – um espaço que nos permite expressar sem medo de julgamentos. E com isso se torna natural estabelecer laços mais profundos com os outros a partir de um espaço meditativo e de maior conexão consigo mesmo. Uma oportunidade de abrir o coração bem como muita diversão e prazer. Um tanto de abraços e carinho, muita dança, canto, comida saudável de alta qualidade energética e sensorial. Em ambos os eventos, houve no final um “show de talentos” onde assisti performances de dança, música e teatro do mais alto nível de criatividade espontânea e tive o êxtase de partilhar a dança do ventre.

No Retiro Tântrico conduzido por Sarita e co-terapeuta Nitem com vivências baseados no texto clássico do Vigyan Bhairav ​​Tantra de 112 métodos foi pra mim uma profunda experiência transformadora. O vasto conhecimento e experiência dos terapeutas aliado ao senso de humor e amorosidade deles possibilitou um campo tântrico muito refinado favorável à expansão. O centro Osho Nisarga possui uma atmosfera meditativa única, rodeado por rio, pedras, linda vegetação e vista para o Himalaya.

 

Difícil expressar em palavras tudo o que foi vivido nos momentos de silêncio, partilha, meditação, celebração, expressão e muitas experiências no campo da energia e consciência. É como se a vida ficasse ainda mais bonita, misteriosa, mágica, potente e plena de revelações sobre o espírito e o amor.

 

Depois do retiro em Dharanshala fui convidada a participar do “Tantra Festival” em Délhi como assistente numa atividade de suporte emocional. O evento foi de uma qualidade singular desde o amanhecer com meditações até o final do dia com celebrações. Houve facilitadores internacionais de Tantra e outras terapias compartilhando seu conhecimento com uma eclética variedade de sessões e workshops. Aconteceu no centro “Zorba the Budha” que parece mesmo um oásis no meio da loucura de Délhi, com seus lindos jardins, bela arquitetura sustentável numa atmosfera meditativa e celebrativa. Em cada abraço, um encontro, uma troca de vibrações de amor, empatia e às vezes êxtase.

 

No momento das refeições a gente se reunia em círculos numa partilha muita descontraída e divertida; e sempre muitos abraços, carinho, contato físico, música e alegria. No final houve a “Cerimônia de cacau” onde tive uma forte experiência de conexão com o coração para definir intenções de “deixar ir” e novas maneiras de ser. Durante todo o festival experimentamos um espaço acolhedor de nutrição da alma, apreciação pela vida e um bom equilíbrio entre se deleitar no prazer de Zorba e o estado meditativo de Buda.

 

 

A presença no festival dos músicos Baul Mystics foi mágica. Bauls são músicos nômades místicos de Bengala que cantam revelando o mistério da vida, as leis da natureza e da união com o divino. De forma espontânea expressam sua ideologia espiritual através da música que nos transporta para outra dimensão. Quando eles entram cantando, rindo, abraçando, dançando nos convidam naturalmente para uma comunhão extática com o divino em cada momento de forma aberta, brincalhona e amorosa. Para eles qualquer lugar é o seu local de reverência ao divino acendendo um fogo de êxtase devocional. Osho diz “Baul é uma floração, uma energia que flui, aquele que olhou para a vida e percebeu que tudo está disponível e não há necessidade de procurar.”

 

Após o festival, reencontrar muitos amigos em outros pontos da jornada (Pune, Goa, etc.) era uma alegria imensa. Embora houvesse pouco tempo de amizade, o sentimento de pertencimento era pulsante, uma vez que nos conhecemos em um espaço de exposição de nosso interior, de muita sensibilidade e expansão amorosa.

 

Outro evento que participei foi uma imersão por sete dias em “Tibetan Pulsing Healing Tantra” no Love Temple no mar arábico de Goa – técnica tibetana aperfeiçoada na Escola de Mistérios do Osho. Em síntese, foram oportunidades de experienciar a essência do Tantra de muitas maneiras diferentes, num fluxo livre de bem-aventurança em movimento que mudou a minha jornada de vida e confirmou mais uma vez meu caminho no Tantra como discípula do Osho.

Outros lugares especiais

Além dessas experiências marcantes junto à comunidade do Osho foi muito interessante visitar alguns lugares que também considero muito especiais. Vários lugares da Índia são marcantes pela beleza arquitetônica como os templos tântricos de Kajuraho.

Nessa cidade, os guias se tornaram nossos amigos e se fizeram muito presentes durante o período que estivemos lá. Algo típico na Índia são a alegria e amabilidade do povo que adora se comunicar e interagir. Um país que emana através do seu povo de forma expressiva as qualidades do feminino como: receptividade, espiritualidade, amabilidade, criatividade entre outras.

 

Emocionou-me em conhecer o famoso Taj Mahal em Agra – mausoléu construído no séc. XVII por um rei para homenagear a esposa – de fato uma maravilhosa ode ao amor- assim como a belíssima e mágica cidade rosa Jaipur no Rajastão.

 

Foi muito bom permanecer mais tempo em Dharansala, uma cidade com atmosfera budista, pacífica, com zero de criminalidade com belas montanhas, com vistas para o Himalaya. Lá participei de um satsang de três dias com Dalai Lama – ensinamentos profundos sobre a essência da vacuidade e o paralelo entre o budismo e física quântica que me deixou vibrando por alguns dias em outra dimensão. Participei também de aulas mantra e de yoga.

 

A cidade de Tiruvanamalai entrelaça um profundo senso de misticismo e a força da natureza que rodeia a montanha Anurachala. Meditar, participar dos cantos devocionais no asrham do Ramana Maharshi (mestre da escola Vedanta), subir ao topo da montanha Arunachala e meditar nas cavernas que ele ficou por sete anos são algumas das ricas experiências dessa jornada que me tocou profundamente.

Na comunidade de Auroville – a maior ecovila do planeta idealizada pela Mãe e Sri Aurobindo há tecnologias e formas sustentáveis de vida, terapias holísticas e meditação com 2.500 pessoas. Foi lá que aprendi a andar de moto, mas mesmo assim foi possível conhecer apenas uma parte da imensa ecovila. Chamou-me atenção a expressão artística do local com eventos diários de dança, música e exibição de filmes em duas salas de cinema. Isso reflete uma característica da Índia – um país muito expressivo em artes e inúmeros Festivais de Yoga, Dança, Espiritualidade, entre outros.

 

Outro lugar foi o asharam em Amritapuri, (Kerala), da líder espiritual Amma que transmite darshan em forma de abraços – umas compaixão sem fronteiras. Foi maravilhoso ver o relevante trabalho humanitário reconhecido pela ONU que ela realiza, assim como assistir o satsang às margens do Oceano Índico.

Em 2017 foi uma experiência muito rica de permanecer somente em Rishikesh assistindo aos satsangs do Mooji, participando de aulas de Dançaterapia e reencontrando vários amigos vindos de várias locais.  Rishikesh é considerada a capital dos mestres e da Yoga, fica situada aos pés do Himalaia no norte da Índia banhada pelo rio sagrado Ganges onde acontece muitos rituais do hinduísmo.  A visita dos Beatles deu muita visibilidade à essa cidade e o Ashram de Meditação Transcendental  que eles visitaram como discípulos do mestre falecido Maharishi Mahesh chama-se hoje “Ashram dos Beatles”. Estar na presença do Mooji nessa temporada lá foi uma experiência que me fez sentir muito abençoada, muita expansão no coração, silêncio e quietude.

 

 

Ao fazer esse relato sinto-me tocada ao perceber o quanto as inúmeras viagens que fiz para Índia proporcionaram-me ricas experiências de vida e expansão de consciência, incluindo tudo que foi vivido, dos desafios ao êxtase. Honro esse país como uma segunda pátria, pois lá renasci em várias jornadas. Deixo aqui minha profunda gratidão por todas essas experiências que tanto me ensinaram e uma saudação sincera de Namastê – o típico cumprimento indiano – “deus em mim saúda o deus em você”… esse para mim é o mais profundo significado de devoção que aprendi, não se trata de ter devoção à uma pessoa, mas sim à todos os seres.  E a vida segue seu curso, colhe-se um tanto de lição de vida, de graça, de amor, celebração, lágrimas, risos, prece e comunhão.