Soraya Vidya
O meu caminho de Tantra se iniciou com a dança do ventre. Como descendente de sírio-libaneses já sentia um encanto natural por essa dança. Ao assistir pela primeira vez uma bailarina dançando, fiquei muito tocada, foi como se eu visse uma Deusa encarnada expressando uma sensualidade sagrada, o que me levou a dedicar ao aprendizado dessa arte. Posso afirmar que reconectei com minha sexualidade após a prática da dança do ventre e de uma forma muito diferente, com mais consciência da minha energia. No início foi bem desafiador, resgatar a graciosidade e sensualidade.
Com a dança, as partes bloqueadas, escondidas e rejeitadas começaram a se mexer. À medida que eu dei espaço a essas partes dentro de mim, comecei a me amar e celebrar a beleza que emanava a partir do Ser. E eu realmente comecei a honrar Ser mulher e expressar as qualidades do feminino, seja de sensualidade, sensibilidade, amor ou poder da energia de Shakti.
Após um tempo de aprendizado e shows, desenvolvi um trabalho de ensinar essa dança integrada com os ensinamentos sobre chakras, taoismo e Bioenergética. E ao compartilhar essa arte com várias mulheres testemunhei todas as fases de cada aluna, desde o desafio de algumas delas chorarem no meio da aula por sentirem desconectadas do corpo e do feminino até a transformação. As aulas eram realmente um laboratório alquímico e isso me trouxe um sinal de que minha vocação era facilitar esses processos de conexão com a essência que passava pelo corpo e pela energia sexual.
Voltar ao Ventre – “Power house”
Essa dança nos convida a dançar a partir da força do ventre, do visceral e da pélvis. A conexão com o ventre, sede de nossas emoções, da criação, da energia sexual – é a base para a energia subir a outros níveis de consciência. A conexão com a sacralidade do corpo e da energia sexual ocorre através de gestos, vibrações, movimentos e expressões da sensualidade e da vitalidade. Na medicina chinesa, entende-se que no ventre há um centro de força (Tan Tien ou Hara) e na região pélvica abriga o que podemos considerar nossa “usina de energia”, áreas muito ativadas nessa dança o que traz muita vitalidade e centramento. Também, no ventre é a sede do segundo chakra (elemento água) que é a polaridade positiva na mulher e está ligada à sensualidade, emoções e prazer, assim como o terceiro chakra relacionado ao poder pessoal (elemento fogo) que se torna mais ativo com a dança.
Origem e Benefícios da dança
A dança do ventre, chamada em árabe de “RaqsSharqui” (dança do oriente) existe provavelmente há milhares de anos. Há muitas teorias sobre suas origens, uma das quais é, que tem suas raízes na Índia, outros dizem que ela nasceu no Antigo Egito onde se cultivava a grande Deusa e mais tarde se tornou uma dança da cultura árabe. Era transmitida de mãe para filha como forma de celebrar o feminino da criação, a doçura, graciosidade, subjetividade e sensualidade da mulher.
Diferente da tendência atual massificada do culto ao corpo “perfeito” e a eterna juventude, na dança do ventre a mulher é valorizada na sua beleza única, sejam gordas, magras, etc., sem limite de idade para dançar, o que resgata a autoestima da mulher. Sua prática regular pode favorecer, gradativamente, que emoções e sentimentos sejam transformados ou integrados. É composta por uma série de movimentos, vibrações, impacto, ondulações e rotações, ativação dos chakras e desbloqueio energético que envolvem o corpo como um todo, beneficiando órgãos, glandulas e circulação.
Há vários estudos sobre os efeitos da dança, em geral, na saúde. Um deles realizado em dois grupos distintos para pessoas de mais de 68 anos: um praticava dança (diversos estilos) e o outro, exercícios físicos. Embora os dois grupos tenham apresentado aumento no volume geral do hipocampo – que “encolhe” com a idade e é uma das áreas atingidas por doenças neurodegenerativas, somente o grupo que fez as aulas de dança teve melhora na área do cérebro relacionado à memória e reconhecimento espacial.
Sobre o curso
As aulas não são voltadas para performance. O objetivo é estimular cada participante a se conectar e dançar a partir da essência, sua graça, espontaneidade, alegria, poder pessoal e silêncio interior. Deixar os estereótipos de lado e reconhecer a sua beleza única e se aceitar.
Com o tempo, se adquire um certo domínio sobre cada parte do corpo que dialoga com cada frase melódica e rítmica da música árabe. Embora há uma técnica definida por movimentos de ondulações, rotações, vibrações, impacto, movimentos lentos e rápidos que envolvem o corpo como um todo, essa dança deixa uma margem para improvisação e criatividade, de acordo com a sensibilidade de quem pratica. Assim, cada bailarina desenvolve seu próprio estilo com todos os matizes de sentimento e riqueza da gestualidade.
O caminho desta arte é também o caminho da coragem de nos revelar e um exercício de presença no coração. Quando dançamos, algo misterioso acontece, algo muda, é estar presente no corpo – nossa casa. E essa é a cura.